quarta-feira, 29 de julho de 2009

PROVA E ENTREGA DE TRABALHOS

Receberei os trabalhos no dia 30/7, quinta-feira, das 9h às 10h, na sala 38 do prédio de Letras.
Quem for fazer a prova, comparecer às 9h na sala 38.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

SOBRE RECUPERAÇÃO

A recuperação será feita da seguinte forma:
1. Os alunos que não entregaram trabalho final, e tiveram média final maior ou igual a 3,0 e freqüência igual ou maior a 70%, poderão fazer prova no dia 30 de julho, quinta-feira, das 9h às 12h, em sala ainda a ser definida. A prova tratará de questões gerais tratadas ao longo do curso e pressupõe conhecimento da bibliografia indicada no programa do curso e comentada nas aulas.
2. Os alunos que entregaram o trabalho final poderão refazê-lo a partir de orientações dadas por mim (aos que estiverem nesse caso, peço que escrevam para mim, hsg@usp.br, ou para a Mônica, monica.asciutti@usp.br); os trabalhos deverão ser entregues também no dia 30 de julho, das 9h às 12h, em sala a ser indicada.

terça-feira, 30 de junho de 2009

CONCLUSÃO DO CURSO E DEVOLUÇÃO DOS TRABALHOS FINAIS

Na quinta e na sexta-feira, 2 e 3 de julho, concluirei o curso, tratando de "Memórias de um sargento de milícias", de Manuel Antônio de Almeida, e do ensaio “Dialética da malandragem”, de Antonio Candido.
Na sexta-feira, devolverei os trabalhos comentados e divulgarei as notas finais e a freqüência.
Tanto na quinta como na sexta, as atividades serão feitas conjuntamente para as turmas dos dois horários das 10h às 12h, na sala 202.
Se alguém do primeiro horário não puder comparecer, peço que me escreva (hsg@usp.br) para pensarmos numa alternativa.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

LEMBRETE SOBRE TRABALHO FINAL

Na próxima sexta-feira, dia 26, receberei os trabalhos finais das 9h às 10h30 na sala 38. Estarei também com a tabela da freqüência às aulas, para que cada um possa conferir o número de faltas.
Aos que fizeram o projeto de trabalho, peço que o anexem ao trabalho final, para que eu possa acrescentar a nota do projeto à nota do trabalho.
Até sexta!

domingo, 7 de junho de 2009

SOBRE TRABALHOS FINAIS

Na sexta-feira, combinei com os alunos que foram à faculdade manter a entrega do trabalho para 26/6, sexta-feira. Se a greve continuar até lá, receberei o trabalho na sala 38, entre 9h e 10h30.
Qualquer dúvida, escrevam para mim (hsg@usp.br) ou para a Mônica Asciutti (monica.asciutti@usp.br)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

DECISÃO DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP

Na assembléia da Adusp (Associação dos Docentes) de hoje, 4/6, quinta-feira, ficou decidida greve a partir de amanhã, 5/6, sexta-feira.
Estarei nas salas de aula às 8h15 e às 10h15, para esclarecer para vocês o que motivou a decisão dos professores pela greve e também para dar informações sobre os encaminhamentos para a conclusão do curso.
Até lá.
Hélio

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"BANDIDO NEGRO", Castro Alves

"BANDIDO NEGRO", Castro Alves

Corre, corre sangue do cativo
Cai, cai, orvalho de sangue
Germina, cresce, colheita vingadora
A ti, segador, a ti. Está madura.
Aguça tua foIce, aguça, aguça tua foIce.
(E. Sue, Canto dos filhos de Agar)

Trema a terra de susto aterrada...
Minha égua veloz, desgrenhada,
Negra, escura nas lapas voou.
Trema o céu ... ó ruína! ó desgraça!
Porque o negro bandido é quem passa,
Porque o negro bandido bradou:

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Dorme o raio na negra tormenta...
Somos negros... o raio fermenta
Nesses peitos cobertos de horror.
Lança o grito da livre coorte,
Lança, ó vento, pampeiro de morte,
Este guante de ferro ao senhor.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Eia! Ó raça que nunca te assombras!
P’ra o guerreiro uma tenda de sombras
Arma a noite na vasta amplidão.
Sus! pulula dos quatro horizontes,
Sai da vasta cratera dos montes,
Donde salta o condor, o vulcão.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.
E o senhor que na festa descanta
Pare o braço que a taça alevanta,
Coroada de flores azuis.
E murmure, julgando-se em sonhos:
"Que demônios são estes medonhos,
Que lá passam famintos e nus?"

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Somos nós, meu senhor, mas não tremas,
Nós quebramos as nossas algemas
Pra pedir-te as esposas ou mães.
Este é o filho do ancião que mataste.
Este - irmão da mulher que manchaste...
Oh! não tremas, senhor, são teus cães.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

São teus cães, que têm frio e têm fome,
Que há dez séc'los a sede consome...
Quero um vasto banquete feroz...
Venha o manto que os ombros nos cubra.
Para vós fez-se a púrpura rubra,
Fez-se o manto de sangue p’ra nós.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Meus leões africanos, alerta!
Vela a noite... a campina é deserta.
Quando a lua esconder seu clarão
Seja o bramo da vida arrancado
No banquete da morte lançado
Junto ao corvo, seu lúgubre irmão.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Trema o vale, o rochedo escarpado,
Trema o céu de trovões carregado,
Ao passar da rajada de heróis,
Que nas éguas fatais desgrenhadas
Vão brandindo essas brancas espadas,
Que se amolam nas campas de avós.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz


OUTROS POEMAS SOBRE A VINGANÇA DE ESCRAVOS

“Tragédia no lar” (1865), de Castro Alves
“Mauro, o escravo” (1864), de Fagundes Varela


BIBLIOGRAFIA SOBRE O NEGRO E O ESCRAVO NA LITERATURA BRASILEIRA

BROOKSHAW, David. Raça & cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
BROCA, Brito. “O ‘Bom Escravo’ e as ‘Vítimas Algozes”. In: _______ Românticos, pré-românticos e ultra-românticos – Vida literária e romantismo brasileiro. São Paulo: Polis; Brasília: INL, 1979.
GOMES, Heloisa Toller. O negro e o romantismo brasileiro. São Paulo: Atual, 1988.
____ As marcas da escravidão. O negro e o discurso oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ EDUERJ, 1994.
SAYERS, Raymond. O negro na literatura brasileira. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Próxima aula, avaliação e retificação

Na próxima aula, em 16/4, começaremos a tratar de Iracema, de José de Alencar.

Na sexta-feira, 17/4, faremos a avaliação, que tratará dos assuntos discutidos até agora nos textos lidos e nas aulas; será permitida consulta dos textos e das anotações de aula.

Uma retificação: José de Alencar nasceu em 1829 e morreu em 1877; tinha, portanto, 48 anos ao morrer.

Bons feriados para todos.
Hélio

quinta-feira, 19 de março de 2009

O "LEDE", DE GONÇALVES DE MAGALHÃES

Segue o prefácio aos "Suspiros Poéticos e Saudades", de Gonçalves de Magalhães, que analisaremos na aula de 20/3/2009




LEDE
Pede o uso que se dê um prólogo ao Livro, como um pórtico ao edifício; e como este
deve indicar por sua construção a que Divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos aproveitamos, para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este Livro se elevem em alguns espíritos apoucados.
É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço, ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.
Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com o bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem providencial que reina na história da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro.
Para bem se avaliar esta obra, três coisas releva notar: o fim, o gênero, e a forma.
O fim deste Livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o de elevar a Poesia à sublime fonte donde ela emana, como o eflúvio d'água, que da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanações do vulgo, indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.
A Poesia, este aroma d'alma, deve de contínuo subir ao Senhor; som acorde da inteligência deve santificar as virtudes, e amaldiçoar os vícios. O poeta, empunhando a lira da Razão, cumpre-lhe vibrar as cordas eternas do Santo, do Justo, e do Belo.
Ora, tal não tem sido o fim da maior parte dos nossos poetas; e o mesmo Caldas, o primeiro dos nossos líricos, tão cheio de saber, e que pudera ter sido o reformador da nossa Poesia, nos seus primores d'arte, nem sempre se apoderou desta idéia. Compõe-se uma grande parte de suas obras de traduções; e quando ele é original causa mesmo dó que cantasse o homem selvagem de preferência ao homem civilizado, como se aquele a este superasse, como se a civilização não fosse obra de Deus, a que era o homem chamado pela força da inteligência com que a Providência dos mais seres o distinguira!
Outros apenas curaram de falar aos sentidos; outros em quebrar todas as leis da decência!
Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela, embalado pelos prazeres; no cárcere, como no palácio; na paz, como sobre o campo da batalha, se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-se de sua missão, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração, e elevar o pensamento nas asas da harmonia até às idéias arquétipas.
O poeta sem religião, e sem moral, é como o veneno derramado na fonte, onde morrem quantos aí procuram aplacar a sede.
Ora, nossa religião, nossa moral é aquela que nos ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que ilumina a Europa, e a América e só este bálsamo sagrado devem verter os cânticos dos poetas brasileiros.
Uma vez determinado e conhecido o fim, o gênero se apresenta naturalmente. Até aqui, como só se procurava fazer uma obra segundo a Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a inspiração, e artificial o entusiasmo. Desprezavam os poetas a consideração se a Mitologia podia, ou não, influir sobre nós. Contanto que dissessem que as Musas do Hélicon os inspiravam, que Febo guiava seu carro puxado pela quadriga, que a Aurora abria as portas do Oriente com seus dedos de rosas, e outras tais e quejandas imagens tão usadas, cuidavam que tudo tinham feito, e que com Homero emparelhavam; como se pudesse parecer belo quem achasse algum velho manto grego, e com ele se cobrisse. Antigos e safados ornamentos, de que todos se servem, a ninguém honram!
Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração; além de que, a igualdade dos versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estâncias produz uma tal monotonia, e dá certa feição de concertado artificio que jamais podem agradar. Ora, não se compõe uma orquestra só com sons doces e flautados; cada paixão requer sua linguagem própria, seus sons imitativos, e períodos explicativos.
Quando em outro tempo publicamos um volume das Poesias da nossa infância, não tínhamos ainda assaz refletido sobre estes pontos, e em quase todas estas faltas incorremos; hoje, porém, cuidamos ter seguido melhor caminho. Valha-nos ao menos o bom desejo, se não correspondem as obras ao nosso intento; outros mais mimosos da Natureza farão o que não nos é dado.
Algumas palavras acharão neste Livro que nos Dicionários Portugueses se não encontram; mas as línguas vivas se enriquecem com o progresso da civilização, e das ciências, e uma nova idéia pede um novo termo.
Eis as necessárias explicações para aqueles que lêem de boa fé, e se aprazem de colher uma pérola no meio das ondas; para aqueles, porém, que com olhos de prisma tudo decompõem, e como as serpentes sabem converter em veneno até o néctar das flores, tudo é perdido; o que poderemos nós dizer-lhes?.. . Eis mais uma pedra onde afiem suas presas; mais uma taça onde saciem sua febre de escárnio.
Este Livro é uma tentativa, é um ensaio; se ele merecer o público acolhimento, cobraremos ânimo, e continuaremos a publicar outros que já temos feito, e aqueles que fazer poderemos com o tempo.
É um novo tributo que pagamos à Pátria, enquanto lhe não oferecemos coisa de maior valia; é o resultado de algumas horas de repouso, em que a imaginação se dilata, e a atenção descansa, fatigada pela seriedade da ciência.
Tu vais, oh Livro, ao meio do turbilhão em que se debate nossa Pátria; onde a trombeta da mediocridade abala todos os ossos, e desperta todas as ambições; onde tudo está gelado, exceto o egoísmo: tu vais, como uma folha no meio da floresta batida pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes de ser ouvido, como um grito no meio da tempestade.
Vai; nós te enviamos, cheio de amor pela Pátria, de entusiasmo por tudo o que é grande, e de esperanças em Deus, e no futuro.
Adeus!
Paris, julho de 1836.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Links para alguns textos

ALENCAR, José de. “Como e por que sou romancista”. Prefácio a O Guarani: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000311.pdf

________________ “Bênção Paterna”. Prefácio a Sonhos d’Ouro:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/sonhosdoro.html

_________________ Iracema:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000014.pdf

DENIS, Ferdinand. “Considerações gerais sobre o caráter que a poesia deve assumir no Novo Mundo”:
http://www.ufrgs.br/cdrom/denis/denis.pdf

MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de. “Lede”, prefácio a Suspiros Poéticos e Saudades:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000076.pdf

ASSIS, Machado. “José de Alencar: Iracema”:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000158.pdf

MACEDO, Joaquim Manuel de. “Simeão, o crioulo”:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000124.pdf

GUIMARÃES, Bernardo. “Uma história de quilombolas”:
http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/biblioteca/0230/index.htm

Taunay, Alfredo D'Escragnolle . Inocência:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000002.pdf

ALMEIDA, Manuel Antonio de. Memórias de um sargento de milícias:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000022.pdf

CANDIDO, Antonio. “Dialética da malandragem”:
http://www.4shared.com/file/48467028/53b4a757/candidodialetica.html

quinta-feira, 5 de março de 2009

FRAGMENTO 116

“A poesia romântica é uma poesia universal progressiva. Sua destinação não é apenas reunificar todos os gêneros separados da poesia e pôr a poesia em contato com filosofia e retórica. Quer e também deve ora mesclar, ora fundir poesia e prosa, genialidade e crítica, poesia-de-arte e poesia-de-natureza, tornar viva e sociável a poesia, e poéticas a vida e a sociedade, poetizar o chiste, preencher e saturar as formas da arte com toda espécie de sólida matéria para cultivo, e as animar pelas pulsações do humor. Abrange tudo o que seja poético, desde o sistema supremo da arte, que por sua vez contém em si muitos sistemas, até o suspiro, o beijo que a criança poetizante exala em canção sem artifício. Pode se perder de tal maneira naquilo que expõe, que se poderia crer que caracterizar indivíduos de toda espécie é um e tudo para ela; e no entanto ainda não há uma forma tão feita para exprimir completamente o espírito do autor: foi assim que muitos artistas, que também só queriam escrever um romance, expuseram por acaso a si mesmos. Somente ela pode se tornar, como a epopéia, um espelho de todo o mundo circundante, uma imagem da época. E, no entanto, é também a que mais pode oscilar, livre de todo interesse real e ideal, no meio entre o exposto e aquele que expõe, nas asas da reflexão poética, sempre de novo potenciando e multiplicando essa reflexão, como numa série infinita de espelhos. É capaz da formação mais alta e universal, não apenas de dentro para fora, mas também de fora para dentro, uma vez que organiza todas as partes semelhantemente a tudo aquilo que deve ser um todo em seus produtos, com o que se lhe abre a perspectiva de um classicismo crescendo sem limites. A poesia romântica é, entre as artes, aquilo que o chiste é para a filosofia, e sociedade, relacionamento, amizade e amor são na vida. Os outros gêneros poéticos estão prontos e agora podem ser completamente dissecados. O gênero poético romântico ainda está em devir; sua verdadeira essência é mesmo a de que só pode vir a ser, jamais ser de maneira perfeita e acabada. Não pode ser esgotado por nenhuma teoria, e apenas uma crítica divinatória poderia ousar pretender caracterizar-lhe o ideal. Só ele é infinito, assim como só ele é livre, e reconhece, como sua primeira lei, que o arbítrio do poeta não suporta nenhuma lei sobre si. O gênero poético romântico é o único que é mais do que gênero e é, por assim dizer, a própria poesia: pois, num certo sentido, toda poesia é ou deve ser romântica.

Fragmento [116] do Athenaeum (1798), de Friedrich Schlegel. In: SCHLEGEL, Friedrich. O dialeto dos fragmentos. Tradução, apresentação e notas de Márcio Suzuki. São Paulo, Iluminuras, 1997, pp. 64-65.

quarta-feira, 4 de março de 2009

PROGRAMA DO CURSO

PROGRAMA LITERATURA BRASILEIRA III – O Romantismo no Brasil
Prof. Hélio de Seixas Guimarães, DLCV/FFLCH/USP, 1 semestre de 2009

Descrição e objetivos
O curso apresenta uma visão geral do romantismo no Brasil, com ênfase na prosa de ficção e no estudo das condições ideológicas e materiais para implementação de um projeto literário no Brasil no século 19. Para isso, está dividido em duas partes:
A primeira parte trata de questões gerais do romantismo no Brasil e de sua filiação a temas e formas importadas das matrizes européias. A leitura e análise de prefácios, manifestos e fragmentos de textos produzidos por escritores e figuras-chave do movimento fora e dentro do Brasil darão instrumentos para se compreender os principais aspectos da estética romântica, identificar especificidades locais, analisar e interpretar textos ficcionais do período.
A segunda parte do curso trata das principais manifestações do romantismo no Brasil – nacionalismo e indianismo, regionalismo, poesia social e escravidão – a partir da análise de textos ficcionais e poemas dos principais prosadores (Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Taunay) e poetas (Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves).
Para a leitura desses textos, o curso propõe duas diretrizes interpretativas: a primeira, centrada na questão do nacionalismo literário, trata da representação problemática do índio e do negro por uma produção literária que procura definir as bases e os mitos da nacionalidade. A outra linha de interpretação, centrada na questão dos gêneros literários, sobretudo do romance, analisa o impacto das condições de produção, circulação e recepção do texto literário no Brasil oitocentista sobre a fatura dos textos de ficção produzidos no romantismo.

Metodologia
Aulas expositivas; discussões de textos lidos fora do horário de aula; leitura e análise de textos em sala.

Critérios de avaliação
Uma prova, contemplando matéria lecionada na primeira parte do curso, e um trabalho de aproveitamento sobre obra ou autor estudado na segunda parte. A prova será no dia 17/4 (sexta-feira). O trabalho deverá ser entregue em 26/6 (sexta-feira). A prova representará 40% da nota final; o trabalho, 60%. Alterações de datas podem ser feitas em função do andamento do curso.

BIBLIOGRAFIA GERAL
ALENCAR, José de. “Como e por que sou romancista”. Prefácio a O Guarani. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, pp. 49-74.
_______ “Bênção Paterna”. Prefácio a Sonhos d’Ouro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, pp. 29-37.
AMORA, Antônio Soares. A literatatura brasileira, vol. II, O Romantismo. São Paulo: Cultrix, 1977.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3a. ed. São Paulo: Cultrix, 1982.
_______ “Um mito sacrificial: o indianismo de Alencar” e “A escravidão entre dois liberalismos”. In: ______ Dialética da
colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BROCA, Brito. Românticos, pré-românticos e ultra-românticos. São Paulo, Polis/INL/MEC, 1979.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira (Momentos decisivos). 3a ed. 2o. volume (1836-1880). São Paulo:
Martins, 1969.
_______ O romantismo no Brasil. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002.
CASTELLO, José Aderaldo. Textos que interessam à história do Romantismo. Vols. I e II. São Paulo: Conselho Estadual de
Cultura/Comissão de Literatura, 1961 e 1963.
CESAR, Guilhermino (sel. e apres.). Historiadores e críticos do romantismo – 1: a contribuição européia, crítica e história
literária. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978.
COUTINHO, Afrânio (dir.) A literatura no Brasil, vol. 3, Era romântica. 6a. ed. São Paulo: Global, 2002.
GUINSBURG, J. (org.). O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1978.
HOLLANDA, Aurélio Buarque de (coord.) O romance brasileiro (De 1752 a 1930). Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1955.
LOBO, Luiza (org.) Teorias poéticas do romantismo. Rio de Janeiro: UFRJ; Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
LOPES, Hélio. Letras de Minas e outros ensaios. São Paulo, Edusp, 1997.
RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 1995.
SCHWARZ, Roberto. “A importação do romance e suas contradições em Alencar”. In: _____ Ao vencedor as batatas – forma
literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. 4a. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1992.
SUSSEKIND, Flora. Papéis colados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.
TREECE, David. Exilados, aliados, rebeldes. O movimento indianista, a política indigenista e o Estado-nação imperial. São
Paulo: Nankin/Edusp, 2008.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES NO BLOG DO CURSO: http://lb32009.blogspot.com


Roteiro de leituras

1. Introdução ao romantismo
ROSENFELD, A.; GUINSBURG, J. “Romantismo e Classicismo”. In: GUINSBURG, J. O romantismo, op. cit., pp. 261-274.
HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime. Trad., prefácio e notas de Célia Berretini. São Paulo: Perspectiva, 1988. (Elos, 5).
SCHLEGEL, Friedrich. Fragmento [116] do Athenaeum (1798). In: SCHLEGEL, Friedrich. O dialeto dos fragmentos. Tradução, apresentação e notas de Márcio Suzuki. São Paulo, Iluminuras, 1997, pp. 64-65.
HOBSBAWM, Eric. “As artes”. In: _____ A era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, pp. 352-382.

2. Os inícios do romantismo no Brasil: definições de temas e gêneros
CANDIDO, Antonio. O romantismo no Brasil, op. cit. [livro todo]
DENIS, Ferdinand. “Considerações gerais sobre o caráter que a poesia deve assumir no Novo Mundo.” In: Resumo da história literária do Brasil. Extraído de CÉSAR, Guilhermino (org.). Historiadores e críticos do Romantismo – A contribuição européia: crítica e história literária, op. cit., pp. 27-41.
“Ao leitor”, apresentação da Niterói – Revista brasiliense, 1836, e “Ensaio sobre a história da literatura do Brasil”. Edição fac-similar publicada pela Academia Paulista de Letras, 1978.
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de. “Lede”, prefácio a Suspiros Poéticos e Saudades. 3a. ed. Rio de Janeiro: Livraria de B.L. Garnier, 1865. In: Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo: Edições LEP, 1949.
Canções do exílio de Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Oswald de Andrade e Drummond [folha avulsa]
SÜSSEKIND, Flora. “Brito Broca e o tema da volta à casa no Romantismo”. In: ______ Papéis colados, op. cit., pp.101-124.
MERQUIOR, J. G. “O poema do lá”. In: _________ Razão do poema. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, pp. 41-50.

3. A prosa romântica: o romance e o projeto literário de Alencar
“Como e por que sou romancista” e “Bênção paterna”, de José de Alencar.
CANDIDO, A. “Um instrumento de descoberta e interpretação”. In: Formação da literatura brasileira, op. cit., pp. 109-118.
SCHWARZ, Roberto. “A importação do romance e suas contradições em Alencar”. In: _____ Ao vencedor as batatas – forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro, op. cit., pp. 33-79.
ALENCAR, Heron. “José de Alencar e a ficção romântica”. In: COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. vol 3, Era romântica, op. cit., pp. 231-322.

4. Nacionalismo e indianismo
Iracema, de José de Alencar; seleção de poemas de Gonçalves Dias [folha avulsa].
ASSIS, Machado. “José de Alencar: Iracema”. In: __________. Obra completa, em três volumes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1997, vol. 3, pp. 848-852.
BOSI, Alfredo. “Um mito sacrificial: o indianismo de Alencar”. In: ______ Dialética da colonização, op. cit., pp. 176-193.
MONTENEGRO, BRAGA. “Iracema – um século”. Prefácio à edição comemorativa do centenário. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.
PROENÇA, M. Cavalcanti. “Iracema” e “Transforma-se o amador na cousa amada”. In: ____________ Estudos literários. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.
TREECE, David. Exilados, aliados, rebeldes, op. cit.

5. Romantismo e escravidão
“Simeão o crioulo”, de Joaquim Manuel de Macedo; “Uma história de quilombolas”, de Bernardo Guimarães; “Bandido negro”, de Castro Alves.
ALENCASTRO, Luis Felipe de. “Vida privada e ordem privada no Império”. In: História da vida privada no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, pp. 12-93.
LOPES, Hélio. “Um romance-libelo”. In: _________ Letras de Minas e outros ensaios, op. cit., pp. 201-208.
MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas-algozes – quadros da escravidão. São Paulo: Scipione; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1991.
NAVES, Rodrigo. “Debret, o neoclassicismo e a escravidão”. In: A forma difícil. São Paulo: Ática, 1996.
SÜSSEKIND, Flora. “As vítimas-algozes e o imaginário do medo”. In: MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas-algozes – quadros da escravidão, op. cit., pp. XXI-XXXVIII.

6. Romantismo e regionalismo
Inocência, de Taunay.
BOSI, Alfredo. “Sertanistas. Bernardo Guimarães, Taunay, Távora”. In: _______ História concisa da literatura brasileira. 3a. ed. São Paulo: Cultrix, 1982, pp. 155-163.
PEREIRA, Lúcia Miguel. “Três romances regionalistas: Franklin Távora, Taunay e Domingos Olímpio”. In: HOLLANDA, Aurélio Buarque de (coord.) O romance brasileiro (De 1752 a 1930). Op. cit. p. 103-114.

7. Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
ALMEIDA, Manoel Antonio. Memórias de um sargento de milícias. Edição crítica de Cecília de Lara. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1978.
CANDIDO, Antonio. “Dialética da malandragem (Caracterização das Memórias de um sargento de Milícias)”. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 8, USP, 1970, pp. 67-89.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

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Este é o blog do curso de Literatura Brasileira III - O Romantismo no Brasil, ministrado pelo Prof. Dr. Hélio de Seixas Guimarães na FFLCH-USP.
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